Caso contrário, como seria possível que uma das mais éticas e humanistas doutrinas religiosas do mundo- cujo texto fundamental considera tirar a vida de um ser humano equivalente a matar toda a humanidade- dessa origem surge algo como o DAESH? Por outro lado, deve-se perguntar por que pessoas nascidas e criadas intelectual e espiritualmente na Europa são atraídas por esses grupos. Pode-se realmente acreditar que indivíduos se tornem extremistas após uma ou duas viagens às zonas de guerra, a ponto de metralhar seus compatriotas? Certamente não se deve esquecer o impacto de décadas de uma dieta cultural insalubre num ambiente contaminado e gerador de violência. É necessária uma análise abrangente desta situação, que detecte as poluições explícitas e ocultas da sociedade. Talvez o profundo ressentimento que foi plantado, durante anos de prosperidade industrial e econômica, no coração de certas camadas das sociedades ocidentais, como resultado de desigualdades e possivelmente discriminações legais e estruturais, tenha criado complexos que periodicamente se manifestam desta forma patológica.
De qualquer forma, cabe a vocês cortar as camadas superficiais de sua sociedade, identificar e remover os nós e ressentimentos. Em vez de aprofundar, é preciso reparar as fraturas. O grande erro na luta contra o terrorismo são as reações apressadas que ampliam as rupturas existentes. Qualquer movimento emocional e apressado que isole ou infunda medo e ansiedade na comunidade muçulmana residente na Europa e América, composta por milhões de indivíduos ativos e responsáveis, privando-os ainda mais de seus direitos fundamentais e afastando-os da cena social, não somente deixará de resolver o problema como também aprofundará as distâncias e ampliará as discordâncias. Medidas superficiais e reativas – especialmente se obtiverem validade legal – além de abrirem caminho para futuras crises pelo aumento das polarizações atuais, não trarão nenhum outro resultado. Segundo as notícias recebidas, em alguns países europeus, normas foram estabelecidas que instigam os cidadãos a espionar os muçulmanos; esses comportamentos são opressivos e todos sabemos que a opressão tem, inevitavelmente, o efeito bumerangue. Além disso, os muçulmanos não merecem tamanha ingratidão.
O mundo ocidental há séculos conhece bem os muçulmanos; tanto no dia em que os ocidentais foram recebidos como hóspedes em terras do Islã e cobiçaram as riquezas do anfitrião, como no dia em que foram os anfitriões e se beneficiaram do trabalho e pensamento dos muçulmanos, na maioria das vezes não viram nada além de benevolência e paciência. Portanto, peço a vocês, jovens, que com base num entendimento correto e discernimento, tirando lições das experiências desagradáveis, estabeleçam os alicerces de uma interação correta e digna com o mundo islâmico. Dessa forma, em um futuro não muito distante vocês verão que o edifício erguido sobre tais fundamentos estenderá a sombra da confiança e segurança sobre seus arquitetos, presenteará-os com o calor da tranquilidade e paz, e irradiará a luz da esperança num amanhã brilhante sobre a face da Terra.
Seyyed Ali Khamenei 29 de novembro de 2015